Economista faz previsões pessimistas em encontro do Ibef
Leiam abaixo, reportagem do Jornal Diário do Comércio de MG
“Só desejo errar o cenário e que ele seja muito melhor do que aquele que eu projeto”. Com esta frase, o sócio e economista da Kairós Capital, Marco Maciel, encerrou o Encontro de Finanças promovido pelo Instituto Brasileiro de Executivo de Finanças – Minas Gerais (Ibef-MG) na terça-feira (15).
Entre as expectativas pessimistas de Maciel, estão a escalada da inflação, que só deverá arrefecer ao final de 2023, e juros que, segundo ele, têm que chegar rapidamente aos 13,5% para baixarem no ano que vem. Um preço amargo para a economia brasileira mas que, segundo o economista, “precisa ser feito”.
O encontro, em formato virtual, reuniu executivos e profissionais de finanças para debater Macroeconomia e as Perspectivas para 2022. O evento contou com o apoio do Banco Pine e do DIÁRIO DO COMÉRCIO. A mediação foi do presidente do Ibef-MG, Julio Damião, que destacou a relevância do tema.
“Muita coisa aconteceu desde janeiro deste ano, tivemos o aumento dos juros, não existem sinais de controle da inflação, as reformas tributárias e administrativas estão em compasso de espera, a economia brasileira continua a patinar devido ao desemprego e ao baixo consumo das famílias, que impacta a indústria e o varejo, e sentiremos maiores variações na economia devido às eleições presidenciais”, apontou.
O diretor regional do Banco Pine, Ricardo Castanho, levantou a necessidade de entender o atual cenário de pandemia e guerra para se ter uma referência estratégica. “Para quem toma decisões todos os dias – e não pode parar o mundo – palestras como essa são fundamentais para colocar um pouco de luz no cenário”, observou.
Com 20 anos de mercado financeiro, Marco Maciel foi responsável pela modelagem e pesquisas macroeconômicas em diversas instituições como Bloomberg, Banco Pine, Itaú BBA e Banco Bozano, Simonsen. É graduado em Economia pela UFRJ, Mestre em Economia Matemática pela Cornell University em Nova York e Ph. D. em Economia e Finanças pela Graduate Faculty of Political and Social Sciences, em Nova York.
O economista iniciou a palestra confessando que, há três anos, jamais imaginaria o que o mundo está vivendo hoje. “Apesar do Leste europeu sempre ter sido uma região candidata a cenário conturbado, era difícil prever esse conflito. Eu não imaginava nunca”, disse. “Vi nesses dois ou três anos o dobro do que vivi na minha vida como economista”, completou.
Maciel utilizou suas especialidades, a modelagem e a pesquisa macroeconômica, para definir cenários de aumento do barril de petróleo. Eles levaram em conta a demanda mundial, a redução imediata da oferta russa, a oferta maior ou menor da Opep e mesmo a contenção das encomendas chinesas. Neste contexto, chegou-se a pensar que o barril chegaria a US$ 150 em três meses e poderia alcançar os US$ 200.
Na verdade, o barril passou a custar US$ 130 bem mais rápido, em uma semana e meia, fruto de processo especulativo. E o consumo global, ao contrário do que se pensava, foi reduzido, inclusive pelo pé no freio chinês por causa dos surtos de Covid – hoje, o custo da commodity beira os US$ 95. No processo, projeções segundo Maciel “cataclismáticas” não se realizaram, como a intenção da Alemanha de trocar o gás da Rússia por petróleo; e surgiram colchões para a crise, como a disposição do Irã em fornecer o combustível para a China.
O economista também falou sobre a defasagem entre os preços da Petrobras e os praticados no mercado internacional que, depois dos aumentos da semana passada, foi reduzida de 54% para 13% no caso da gasolina e de 40% para 6,2% no diesel. “Com a queda do preço do petróleo hoje, a defasagem caiu ainda mais, para 3%”, informou Maciel. Obviamente, reajustes se refletem em inflação: a de fevereiro chegou a 1,01%, com a gasolina tendo um peso de 0,47%. “Para ter inflação mais baixa, temos que ter petróleo a 90 dólares”, afirmou.
As soluções fiscais aventadas pelo governo como congelamento de ICMS ou a criação de um fundo de estabilização podem, segundo Maciel, gerar impactos no câmbio e inflação do mesmo jeito. Inflação que ele projeta em 7,05% para este ano, bem acima do centro da meta (3,5%), e em 3,80% para 2023, uma perspectiva mais pessimista que as aventadas até agora pelo mercado – o relatório Focus do Banco Central calcula 5,65% para 2022 e 3,66% para o ano que vem.
Marco Maciel fundamenta suas projeções com o aumento da alimentação em domicílio, sujeita aos impactos das cotações de grãos e de fertilizantes, além da inflação de bens industriais, causada pelos prejuízos à cadeia de oferta, caso a guerra persista por um tempo maior.
Taxa Selic e câmbio
Outra projeção levantada por Maciel se refere à Selic, que, para ele, tem que atingir os 13,5% já no meio do ano, para poder retornar a 11,5% em 2023. “Os juros têm que subir rápido para controlar as expectativas de inflação deste ano e do ano que vem. Quanto mais alta a Selic este ano, mais baixa a do ano que vem. Vai bater no serviço da dívida? Vai reduzir PIB? Vai doer? Vai. Mas é preciso fazer”, decreta. Segundo ele, o Banco Central faz seu trabalho. “Mas o governo tem que fazer o dele e cuidar do equilíbrio fiscal, obedecer ao teto de gastos, congelar salários e fazer as reformas. Cada um tem que fazer a sua parte”.
Quanto ao horizonte cambial, Maciel acredita que o Brasil tem tudo para ter um câmbio de tendência em torno de R$ 5, apesar do momento de volatilidade. Ele acredita que, “se as eleições esquentarem e os candidatos se renderem a discursos populistas e saídas fiscais esdrúxulas”, a moeda americana pode variar entre R$ 4,90 e R$ 5,30. Mas não chega a R$ 5,50, “mesmo com Lula”, que, para Maciel, será, se eleito, um presidente novamente pragmático.
Com a Covid e, agora, o conflito no Leste europeu, o comércio internacional tende a enfraquecer – as exportações brasileiras devem crescer apenas 2% – mas, em compensação, a alta de juros atrai capitais estrangeiros. “O Brasil virou uma fonte a mais de alocação dos fundos globais, com a saída da Rússia do cenário”. Maciel ainda analisou a inflação americana, que ele projeta em 6,20% para 2022 e 3,72% ao final de 2023, ou seja, semelhante à do Brasil, que deverá ficar em torno de 7%.
Com juros “levemente” reais de 3,50%, os EUA estão aquém da regra de Taylor, que preconiza um aumento dos juros maior que o da inflação – a taxa americana deveria ser de 5,5% a 6%, sustenta Maciel. Já para a China, ele projeta um crescimento do PIB da ordem de 5% em 2022, abaixo das expectativas do mercado.
Contribuem para isso a crise do setor de construção e a política chinesa de tolerância zero com a Covid, o “stop and go” que para tudo quando surgem casos da doença. “O que significa uma corrente menor de comércio mundial, que afeta todas as economias do mundo, inclusive a do Brasil. Mas a economia global ainda cresce este ano”, concluiu.
Crédito da publicação: Notícia no Jornal DC em 17/03/22 – https://diariodocomercio.com.br/financas/economista-faz-previsoes-pessimistas-em-encontro-do-ibef/
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